Ai, ai, ai… lá vamos nós outra vez.
E se eu tirasse todos os dias uma hora, não mais que isso, para escrever aqui? Todos os dias, sem falta, uma hora exata, só para não dizer que não falei das flores.
Nesse caso, só para não dizer que não falei da guerra.
Por que eu sinto que a guerra, a maldita guerra entre Rússia e Ucrânia é só mais um motivo para as pessoas brigarem? Não estou falando apenas dos russos e dos ucranianos, mas da humanidade, de nós, brasileiros, que adoramos uma torcida, adoramos tomar um lado em tudo que é história, mesmo numa porra de uma guerra que não tem lados. Mas eu já percebi que de cada um dos lados as pessoas sempre se sentem os melhores os mais filhos de deus, os mais santos, os mais certos. Conhecereis a verdade e tudo será ficção. Não existe salvação, pois não existe verdade.
Sim, não existem verdades nem lados nesta bosta. Todos os lados são péssimos, todos têm interesses escusos, todos estão a fim apenas de dinheiro e de poder. E nós, pobres mortais, que lutemos. No fim muita gente vai sair muito rica disso tudo e o resto vai mesmo se foder.
Todos nós, que ficaremos com a gasolina mais cara, o trigo pela hora da morte, os transportes mais difíceis, a falta de fertilizantes, isso sem falar na montanha de mortos, sairemos todos perdidos e perdendo, ao fim desta guerra. Exceto, é claro, a meia dúzia de poderosos que sairão desse conflito ainda mais poderosos, mais ricos e mais egoístas.
Quem disse que Putin ou Zelensky ligam para quantos de nós teremos perecido depois disso? Quem vive e quem morre? Bah!
E o Biden, então, está muito preocupado? Sim, está bastante preocupado em manter essa guerra o mais longe possível de suas barbas brancas e de seu território e de seus eleitores e de sua gente, desde que possa recuperar sua popularidade, como mais um salvador da pátria e mais um presidente americano que favoreceu e deu lucro de bilhões de dólares à indústria armamentista.
E o gás? Ouvi dizer que o tal gás de xisto, que os americanos extraem a custa de muita destruição e de muito dano ao meio ambiente, é bem mais caro do que o gás natural que a Rússia vende para a Europa. Será que Biden quer substituir a Rússia no fornecimento de energia aos europeus ocidentais?
Enquanto isso, milhões e milhões de refugiados devem deixar a Ucrânia em busca de um lugar para deitar a cabeça, nem que seja na Polônia. Quem diabos, em condições normais, iria querer viver na Polônia? Só mesmo os poloneses e os que estão fugindo de uma guerra. Não que a Ucrânia seja lá muito melhor do que isso.
Mas os pobres ucranianos e os coitados dos soldados russos é que se foderão. Seus líderes supremos estão muito bem guardados em seus bunkers subterrâneos a prova de bala, de mísseis, de acidentes nucleares. Isso daria um bom enredo em Hollywood. Um dia, provavelmente não muito tempo depois de hoje, isso vai virar um filme de sucesso na Netflix, como aquele filme com a Jodie Foster, que fala dos presos em Guantánamo Bay, Cuba, em seguida aos ataques às torres gêmeas.
Ai, que preguiça disso! Eu não aguento mais pandemia, não aguento mais desastres, não aguento mais desgraça. Chego até mesmo a pensar que tudo isso é só mais uma cortina de fumaça para que a gente esqueça a tal pandemia, que por aqui já matou mais de 650 mil pessoas e, na Rússia, outro tanto.
Mas é claro que isso tudo não pode ser apenas fictício, não é? Quem sabe? Quem jamais saberá se essa pandemia não foi criada para disfarçar a crise econômica, que viria de qualquer forma. Quem sabe se agora não inventam uma guerra para que a gente se esqueça da pandemia.
Eu acredito na pandemia, acredito no vírus, acredito na guerra, acredito em deus, em satanás e nas fadas. Só não acredito nos seres humanos.
Agora parece que tudo já está passando. Pandemia, enchentes e desastres em Paraisópolis. Oops, acho que eu quis dizer Teresópolis, serra fluminense, aquelas montanhas lindas destruídas pela água. De repente, com a guerra, parece que não aconteceu nada naquelas bandas. Nem mesmo em Paraisópolis, onde os desastres acontecem, são abundantes e ferozes, mas de outra ordem.
É tanta coisa. Realmente estou bem cansado. Quem vai me descansar um dia? A morte. Depois que eu morrer descanso. Por enquanto sigo tentando entender este mundo. Nunca vou entender merda nenhuma, porque quando a gente pensa que as coisas estão dando uma melhorada, vêm tempos ainda mais difíceis. E um belo dia morremos, aí que se acaba mesmo qualquer tipo de entendimento.
Não quero que ninguém me acuse de negacionista, hein! Não quero que digam que sou um adepto das teorias da conspiração do finado Olavo de Carvalho (lá em Areia só é finado depois que passa o primeiro dia de finados depois da morte, então Olavão, por enquanto, ainda é apenas defunto), nem que digam que sou um bosta qualquer (eu sou um bosta qualquer, mas não quero que o digam, eu o digo) que não sabe o que dizer, por isso fica escrevendo asneiras na internet.
Porque eu sou, sim, esse merda, que não entende porra nenhuma de nada nenhum de bosta de guerra ou de pandemia ou de nada. Mas não quero pagar de ignorante.
Bem, sou bastante ignorante. Mas gostaria de acreditar que sou uma dessas pessoas que entendem de tudo, falam de tudo, inventam discursos, discussões, vencem os outros com seus argumentos, são inteligentes e bem formados.
Contudo, sabe qual é a verdade? Sou apenas mais um dos jumentos da internet, um daqueles a quem se referia Umberto Eco, quando dizia que hoje em dia qualquer imbecil de posse de um teclado pode propagar suas opiniões de bosta ao redor do mundo e ser ouvido por milhões.
Olha eu aqui. Oi, Umberto? Olha eu aqui.
Em vez de mandar minhas besteiras numa mesa do America, entre duas ou três pessoas tão insignificantes quanto eu, estou aqui mandando ver na internet. Já pensou que isso aqui ficará registrado até daqui a mil anos, quando eu já nem estiver mais aqui há muito tempo nem houver sequer lembrança de que algum dia um menino nasceu na puta que o pariu, sem engenho e sem nada mais, nem juízo nem um puto no bolso?
Ai, mas eu queria ser algo. Ou pelo menos filho de algo, que já seria alguma coisa. Um fidalgo. Em vez disso sou apenas filho de um lavrador/metalúrgico/lavrador outra vez, semianalfabeto, que morreu há muitos anos, mas tinha mania de grandeza a ponto de me chamar de Astrogildo. Eu sou um Astro, que tal? Sou predestinado ao estrelato. Um astro.
Também sou uma pessoa que está com uma dor do caralho na coluna e que não se sente mais apto a ficar o dia inteiro deitado na cama. Pois dói, dói, dói… (perdeu o acento?)
Fui tentar me deitar há pouco, mas sofri como o diabo, assim como sofri feito um filho da puta hoje de manhã, para me levantar de minha cama improvisada no chão, forrado com mil edredons e cobertas e lençóis e colchas.
Parece a época em que eu dormia no quarto da farinha, lá na padaria em Santo André, lá naqueles longínquos inícios da década de noventa. Não tem pra ninguém, a Globo noventa é nota cem. E eu no quarto da farinha, respirando pó.
Depois continuei a dormir no chão por um tempo, quando morei no Madalena, no quintal do Tio Sebastião. Nem cama, nem fogão, nem geladeira, nem televisão, nem nada. Só mesmo uns caraminguás muito suados para pagar o aluguel de dois cômodos cheios de baratas. Baratas, vida ruim e casa caindo.
E no dia em que voltei do trabalho e encontrei metade de minha casa no chão? Pois é. Minha casa desceu de mundo abaixo. Por sorte, e eu realmente sou um homem de sorte, eu não estava lá. Mas minha cama e meu guarda-roupa e não sei que mais foram embora juntos.
Engraçado, eu não me lembro direito como isso aconteceu. Só sei que foi assim. Aconteceu. Eu morava na Vila Industrial, numa casa do Ademir, Claudemir, Vladimir, sei lá qual era o Mir locador de minha casa. Só sei que a casa era mal construída e um dia desceu abaixo.
Olha que merda. Naquela época eu nem pensei nisso, mas a verdade é que eu poderia ter descido junto.
Será que eu desci? Será que eu morri naquele dia e tudo o que aconteceu a partir daí é só mesmo ilusão de minha cabeça? Eu estarei no outro mundo, numa realidade paralela em que um garoto morre aos vinte e um anos, soterrado debaixo de dezenas de toneladas de escombros, lama e concreto, mas segue vivendo de alguma forma em outra dimensão, em outra imaginação, em outro paraíso?
Deve ser por isso que eu voltei a cair nas garras de Jeová e de suas execráveis testemunhas, as abomináveis testemunhas das neves.
Esta semana, assistindo a uma reportagem sobre a guerra na Ucrânia, vi umas pessoas, na fronteira com a Polônia, ou sei lá que outro país que está recebendo refugiados, segurando umas placas onde se lia jw.org. Entendedores entenderão.
Deve ser isso que vai acontecer no Armagedon. As pessoas que passarão para o novo mundo devem encontrar os irmãos com cartazes de paraiso.com, jw.com, watchtower.com, e irão com seus manos, rumo ao novo mundo, aos braços de jeová, onde serão recebidos em suas belas casas de madeira, no estilo das dos Estados Unidos, em seus bairros arborizados, donos de suas próprias roças, nas quais cultivarão morangos orgânicos e criarão leões.
A propósito de leões domésticos, ontem li uma matéria abominável de tão triste, sobre um homem que criava um leão lá na Indonésia, do qual ele mandou extrair as garras e os caninos. Gente, que desgraça. A reportagem falava de pessoas que criam animais selvagens como se fossem de estimação. Falava principalmente do vídeo no qual uma arraia morria de rir com cócegas, que viralizou no TikTok. Um biólogo dizia que aquela coitada estava mesmo morrendo sufocada, pois estava fora da água, e que os olhos dela ficam do outro lado do corpo. O que pareciam olhos, que víamos se movendo enquanto o animal recebia as cócegas, na verdade eram as narinas dele, arreganhadas a procura de ar ou sei lá o quê, visto que ele respira pelas guelras.
Daí também me lembrei de quando fomos à mata de Seu Inácio pegar um sagui. Eu adoro macaquinhos, todo mundo adora macacos, porque são inteligentes, mais do que os cães, e ao mesmo tempo são muito parecidos conosco, os humanos. Nós, as crianças paupérrimas lá do Fechado de Cima, também adorávamos. E víamos que Michael Jackson tinha um chimpanzé. Então decidimos ter nosso próprio macaco.
Os saguis eram muito mansos. E adoravam bananas, claro. Eram um clichê ambulante ou pululante entre as imensas árvores de jatobá. Fomos então à mata, munidos de nossa munição, isto é, munidos de várias bananas, e oferecemo-las aos bichos.
Quando eles se aproximaram para comer, segurei o rabo de um deles e o puxei para mim. Foi um grito horrível que o bichinho deu. Em seguida choveram macacos das árvores para cima de nós. Eu larguei o rabo do animal, claro, e corremos todos. Nunca mais inventamos de criar um sagui.
Essa é uma daquelas histórias que mostram o quanto as crianças têm parte com o satanás. Ou não. Pode apenas significar que têm merda de galinha em lugar do cérebro. Lá isso têm mesmo.
Mas deus protege os bêbados, os idiotas e as crianças. Por isso escapamos da aventura sem um arranhão sequer.
Beijos até! Beijos, até!